Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)

Talvez a forma mais comum de começar esse texto, seria abordar primeiro o que define o TPB, não é?  Talvez, dessa forma, diminuiria mais rapidamente a sua curiosidade sobre o tema ou ainda, anteciparia a sua inclinação em ficar analisando os sintomas e tentando se encaixar no diagnóstico.  

No entanto, vamos apresentar primeiro a pessoa, o ser humano em questão, seus medos, angustias, suas emoções, seu funcionamento em prol da vida e da sobrevivência. Quando falamos de ser humano, falamos de pessoas, de sentimentos e emoções, de histórias de vida, com encontros e desencontros; falamos de dificuldades e limitações, enfrentamentos e superações, falamos da vida. 

Gosto de lembrar que antes de qualquer transtorno específico, existe uma pessoa, uma vida e uma vida que merece ser vivida e vivida plenamente. É com esse olhar sobre a vida, que vamos abordar o transtorno de personalidade borderline (TPB). 

O que vem a ser o TPB?

Você já teve a sensação de perder o controle por sentir alguma emoção de forma intensa? Já agiu sem pensar, no impulso e depois se arrependeu? Muito provavelmente, isso já ocorreu em algum momento da sua vida. E depois? O que você fez? Talvez tenha se dado conta do prejuízo e fez algo para reparar o dano. A emoção que era intensa, baixou e você seguiu em frente, sem maiores prejuízos. 

As emoções possuem funções importantes em nossas vidas, nos impulsionam para a ação e nos ajudam na comunicação com as outras pessoas; possuem a função de garantir a nossa sobrevivência.  Quando muito intensas e desproporcionais ao contexto, nos levam a agir impulsivamente. Nesses casos, regular as emoções é fundamental para nos mantermos centrados e autônomos em nossas tomadas de decisões.  

Existem pessoas que são mais sensíveis aos estímulos emocionais, sentem a emoção mais rapidamente e de forma muita intensa, com retorno lento ao nível basal de funcionamento e com isso, estão mais suscetíveis a agirem no impulso.  

De acordo com o modelo biossocial que fundamenta a Terapia Comportamental Dialética (DBT), essa sensibilidade emocional vem representar a vulnerabilidade emocional do indivíduo com TPB, no seu aspecto biológico, que em combinação com ambientes disfuncionais, em sua interação e transação ao longo do tempo, resulta no mecanismo da desregulação emocional, que é considerado o elemento central do transtorno de personalidade borderline. 

Segundo Marsha Linehan (2010), psicóloga que desenvolveu a DBT, o paciente com TPB, possui uma disfunção do sistema de regulação emocional, com déficit para inibir atos desadaptativos e dependentes do humor. 

Com a desregulação emocional, o indivíduo com TPB, apresenta respostas emotivas muito reativas, o que vai refletir num padrão de desregulação interpessoal, comportamental, cognitiva e no self.

Sintomas:

Conforme descrito no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM5;2013), o transtorno de personalidade borderline apresenta pelo menos cinco (ou mais) dos seguintes sintomas:

1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado

2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.

3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo.

4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). 

5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento autolesivos.

6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias).

7. Sentimentos crônicos de vazio.

8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes).

9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos.

Os sintomas apresentados acima, não caracterizam por si só o diagnóstico. É preciso uma avaliação de um profissional especializado.

 Tratamento:

Segundo as recomendações da Associação Americana de Psiquiatria (https://div12.org/treatments/), a terapia comportamental dialética – DBT – é a terapia de primeira linha para o tratamento do TPB, com fortes evidências.

A DBT é uma psicoterapia de base cognitivo e comportamental desenvolvida por Marsha Linehan na década de 80, para paciente graves, com múltiplos diagnósticos, comportamentos autolesivos e cronicamente suicida.

É uma abordagem terapêutica alicerçada em três grandes pilares conceituais: 

  • Dialética – equilíbrio entre os opostos; 
  • Princípios de aceitação;
  • Ciência do comportamento, que embasa os procedimentos de mudança. 

A DBT tem como meta geral, motivar o paciente para uma vida que vale a pena ser vivida e nesse percurso, equilibra estratégias de aceitação e de mudança. 

O tratamento em DBT, compreende a psicoterapia individual e o treino de habilidades (em grupo ou individual), coaching telefônico, consultoria de equipe e tratamentos complementares. 

No treino de habilidades, o paciente é encorajado a aprender novas habilidades e a generalizá-las para os contextos mais relevantes. Compreende 4 módulos de habilidades específicas:

1. Mindfulness / atenção plena

2. Regulação emocional

3. Tolerância ao mal-estar 

4. Efetividade interpessoal 

Existem outras intervenções para o tratamento do TPB:

  • Tratamento Baseado em Mentalização 
  • Terapia Focada no Esquema
  • Terapia Focada na Transferência

Algumas referências sobre o tema:

– DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Publicado em maio Artes Médicas. Sul,2013.

– Treinamento de habilidades em DBT:  manual de terapia comportamental dialética para o terapeuta / Marsha M. Linehan. – 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2018.

– Terapia cognitivo-comportamental para transtorno de personalidade borderline / Marsha Linehan; – Porto Alegre : Artmed, 2010.

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