“Janeiro Branco” já passou, mas a conscientização em prol da Saúde Mental continua por aqui. Que tal refletirmos um pouco sobre a função das emoções em nossas vidas? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), num relatório divulgado em 2022, até o ano de 2019, 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental, sendo 14% adolescentes. Com a pandemia de covid-19, os casos de depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. A pessoa que apresenta sintomas de ansiedade ou depressão, em muitos momentos se torna refém de seus medos ou paralisada pela tristeza. Nesse cenário, falar e informar sobre aspectos psicológicos e emocionais do ser humano, será sempre muito bem-vindo.
A função das emoções em nossas vidas
Já pensou que ao longo do dia, vivenciamos inúmeras emoções? E quando as emoções parecem tomar conta da situação? Quando isso ocorre, como ficamos? O que sentimos no corpo e para onde se direcionam as nossas ações? As vezes ficamos muito desconfortáveis por sentirmos algumas emoções, não é mesmo? Equivocadamente, temos a ilusão de que ser feliz é sentir somente emoções que nos agradam, que nos trazem bem-estar. E então, desejamos controlar as emoções conforme a nossa vontade. Impossível não sermos surpreendidos pelas emoções que nos deixam mais “para baixo”, como a tristeza ou aquelas que nos levam a ações impulsivas, como a raiva ou o medo.
Já passou por situações em que se viu controlado por uma emoção, agiu no impulso e depois se arrependeu? Já ocorreu com você, dar um tempinho antes de agir pelo impulso e perceber que foi a melhor coisa que você fez, pois, se agisse pelo impulso naquele momento colocaria muita coisa em risco? Talvez, uma amizade, um emprego ou risco contra a própria vida? A emoção é uma resposta complexa do nosso organismo a um estímulo externo ou interno. Envolve alterações neurobiológicas, cognitivas e comportamentais. Estímulos externos, referem-se aos acontecimentos, aquilo que ocorre no ambiente. Estímulos internos pode ser por exemplo, um pensamento, uma lembrança, uma sensação.
As emoções possuem funções importantes para as nossas vidas. Vamos pensar na etimologia da palavra. Emoção vem do latim “emovere” que significa “colocar em movimento”. A função principal da emoção é de garantir a nossa sobrevivência; nos prepara fisicamente para agir e economiza tempo. A emoção direciona o nosso comportamento para nos adaptarmos ao ambiente e ajuda a estabelecer comunicação com os outros.
Imagine uma situação de luto, de perda. A pessoa enlutada, vai naturalmente sentir tristeza. A tristeza nessa situação, muito provavelmente vai fazer com que a pessoa se recolha mais, tenha um tempo para refletir, pensar sobre o ocorrido e se reorganizar a nova situação. Também vai possibilitar a pessoa pedir e receber ajuda ou o apoio necessário. Outra forma de pensarmos sobre a importância das emoções é imaginar como seria se vivêssemos sem as emoções. Como seria andar numa rua perigosa durante a noite, sozinho ou sozinha, sem medo? Como seria não sentir culpa em nossos relacionamentos, quando pisamos na bola com alguém?
Provavelmente na primeira situação, o medo nos colocaria mais em alerta e passaríamos pela rua um pouco mais atentos, mais cuidadosos aos estímulos. A culpa, nos permitiria reparar os danos causados a outra pessoa. Nesse caso, a resposta de ação à emoção culpa, poderia ser pedir desculpas, por exemplo, e então nos possibilitaria retomarmos a amizade ou algum relacionamento importante. O ser humano é capaz de vivenciar uma diversidade de emoções. Existem as emoções que são básicas, como a tristeza, medo, raiva, amor, vergonha e nojo.
EMOÇÕES BÁSICAS – Qual a função de cada uma delas?
Tristeza: traduz ideias ou situações de perdas,nos torna mais introspectivos e reflexivos para identificarmos o que de fato é importante para nós, além de sinalizar aos outros que a ajuda pode ser bem-vinda.
Medo: traduz ideias ou situações de ameaças ou perigo a nossa saúde ou à saúde de alguém. Tem a função de nos manter em segurança e, portanto, nos impulsiona ao comportamento de evitação, esquiva ou fuga daquilo que é ameaçador.
Raiva: ocorre quando alguma regra de valor é violada ou uma meta é interrompida. Tem a função de nos proteger de ataques, de perdas de pessoas, coisas ou objetos e nos impulsiona a um comportamento de defesa.
Amor: nos direciona ao encontro de pessoas, animais ou coisas que melhoram a nossa sobrevivência, qualidade de vida e bem-estar.
Vergonha: trata-se de uma emoção de base comunitária que nos induz a esconder algum comportamento que ameace a aceitação pelo grupo ou no caso do comportamento ser exposto ao público, nos impulsiona a reconciliar com o outro, numa postura mais humilde.
Nojo: tem a função de nos manter afastados de alimentos, pessoas ou objetos que podem ser venenosos ou perigosos a nossa saúde ou à saúde de alguém.
Inteligência emocional
Conhecer a forma como as emoções influenciam nossas reações e nosso comportamento é essencial para mudanças em nossas vidas. A neurociência reconhece a importância da conexão entre os processos cognitivos e as emoções e entende que tanto a razão, quanto a emoção, são importantes para que o ser humano aja de maneira inteligente.
É necessário estarmos mais conectados com as emoções e adquirirmos habilidades para regulá-las quando necessário. Segundo Daniel Goleman, criador do conceito de inteligência emocional, através de uma melhor gestão das emoções, melhoramos a autoexpressão, cuidamos mais das nossas necessidades emocionais e nos tornamos mais empáticos às necessidades de outras pessoas.
Olhar e zelar pelas emoções, é um ato de cuidado consigo mesmo e com o outro. Cuidar das emoções é um processo de autoconhecimento com impacto significativo para a saúde mental.
Fica a indicação
Vou deixar aqui a indicação de um filme de animação (já antigo), que gosto muito e que expressa de forma divertida, o funcionamento e impacto das emoções na vida de uma garotinha numa perspectiva da neuropsicologia.
Filme: Divertida Mente. Ano de lançamento: 2015